A 'Banda mais bonita da cidade' explode em sucesso na Internet contagiando o Brasil com uma verdadeira oração de amor; escolas municipais promovem semanas literárias aproximando os artistas dos estudantes da periferia; teatros realizam mostras de parcerias e cantorias com ingressos gratuitos; poetas fazem recitais, leituras e debates em bares para divulgar os escritores paranaenses; atores, cartunistas, pintores, bailarinos enfim todos os artistas integrados, unidos em prol da cultura curitibana. Tudo isso nas últimas semanas. Esse é um bom exemplo de ação integrada.
Mas aí, fu... (AIFU - Ação Integrada de Fiscalização Urbana). Essa outra ação, que também deveria ser uma boa, vem e ferra com tudo. O grupo composto por equipes da Polícia Militar, Polícia Civil, Guarda Municipal, Corpo de Bombeiros, Vigilância Sanitária, Conselho Tutelar, Instituto Ambiental do Paraná entre outros, entendeu que devia tratar todo mundo como criminoso e saiu fechando as portas de estabelecimentos que tinham música ao vivo e tocando todos os clientes pra fora. Fiscalização não é isso! Vocês confundiram as coisas ou estão sendo muito mal liderados. Isso é abuso de poder. Desrespeito.
Não me refiro só ao Beto Batata e a Pedreira Paulo Leminski, dois dos melhores pontos culturais de Curitiba fechados por reclamação de vizinhos. Refiro-me a dezenas de estabelecimentos que foram cercados por viaturas, policiais armados, invadindo a cozinha, revirado o lixo com cães amestrados, botando os clientes e músicos na rua sem dar chance nem para acertar a conta e fechando o estabelecimento, numa abordagem agressiva e abusiva.
Ter o alvará de música vencido é um crime tão grave que mereça uma ação armada desse jeito? Que é isso, companheiro? Saudade da ditadura?
O AIFU foi criado para combater a criminalidade ou para punir os cidadãos que estão confraternizando, ouvindo boa música, se divertindo em paz? Foi criado para fiscalizar, regularizar, educar os empresários e a população para a melhoria da qualidade dos serviços ou para se igualar aos marginais?
O "barulho" da música incomoda o ouvidinho sensível do vizinho do estabelecimento? E o barulho das buzinas do trânsito congestionado, o som dos carros a todo volume (quanto mais alto o volume, pior o gosto musical), o estampido dos tiros na madrugada, as sirenes, os batedores de carteira, os assaltos, os desvios de verbas públicas, os drogaditos, o tráfico, a instalação do PCC na nossa cidade? Isso não incomoda o vizinho encastelado? Esse vizinho sabe que a polícia tem casos muito mais graves para resolver? A polícia e a fiscalização municipal sabem que nós, contribuintes, queremos que o governo concentre esforços para combater esse tipo de crime e não fique desperdiçando tempo e munição com reclamação de meia dúzia de vizinhos amargos, mesquinhos e fofoqueiros que não gostam de música, poesia e alegria? O que vocês acham que nós pensamos quando vemos 14 viaturas fechando um estabelecimento pacífico, e não vemos nenhum policialzinho nos acudindo quando somos assaltados?
Esses "vizinhos" reclamões deveriam ser aconselhados por um psicólogo da prefeitura a sairem de suas casas enjauladas e frequentarem os bares, restaurantes, teatros, cinemas, festas, shows, livrarias. Deviam ser estimulados a gerar mais receita e emprego para o município em vez de ficarem em seus quartos deprimidos, se entupindo de remédio pra dormir, ligando para o 156 e 181 enchendo o saco da polícia e prejudicando quem está trabalhando ou se divertindo.
Governador, Prefeito, Secretários, se toquem! Parem de nivelar o humor e a cultura dos moradores da cidade pelo azedume e ignorância de meia dúzia de ranzinzas que querem manter Curitiba com o estigma de cidade fria, cinzenta, fechada e autofágica. Isso é coisa do passado. Evoluam. Preparem melhor suas equipes. Introduzam cursos de artes na formação dos policiais (não só artes marciais, caramba!). Desenvolvam abordagens diferenciadas para cada tipo de situação. Tenham mais respeito e educação e menos burocracia para com a população. Sejam mais cultos do que os criminosos que vocês deveriam estar combatendo e não dêem tanta bola para vizinhos fofoqueiros e invejosos.
E vocês aí, do AIFU, participem mais da vida cultural da cidade para aprender a diferenciar um Movimento Cultural de um bando de desordeiros. Quem produz ou promove a arte não é criminoso, não! Ignorância sim é crime!
Até mais. A gente se vê nas urnas."
Marilda Confortin em POESIA EMBALDE
Charge do cartunista Paixão, sobre a ação do AIFU em Curitiba - publicado na Gazeta do Povo
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