Para que as raízes e as asas cheguem juntas.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

BrasTemp


As redes e essa saudade da solidão


Outro dia, passando pela tela de uma TV ligada e sem som numa lanchonete, li nos caracteres da tela uma frase que identificava o homem velho e enrugado, com aparência de náufrago, que falava para um microfone de tv. Era um “homem das cavernas” encontrado em algum grotão do Brasil.

Naquele momento falou com a rede de televisão que o entrevistou, ele abandonou momentaneamente o isolamento. Sua imagem, exibida por essa rede de emissoras, foi multiplicada em redes sociais, em rodas de conversas, na web. O homem da caverna, que até então era um ermitão, caiu na rede.

O exemplo do isolamento voluntário se contrapõe ao que nos parece comum e, de tão comum, normal, a convivência em redes. Se no mundo antes de aparecer a Internet já vivíamos em círculos familiares, profissionais, clube e comunidades, como os conjuntos que aprendemos na matemática básica, agora vivemos em páginas, sites e aplicativos, nos mais diferentes dispositivos que nos dão, a todo momento, a sensação de termos essas redes de pessoas em nossas mãos.

O celular com Twitter no bolso, o tablet com o aplicativo de Facebook na mão, o YouTube, o LinkedIn no Notebook, tudo dentro desse grande conceito de rede que, afinal, é o NET da Internet.

Toda a nossa vida hoje é feita de redes interligadas. Sentimos essas conexões que nos interligam e interlinkam.

Esse acesso constante, esse contato permanente com tudo e todos, sempre e em todo lugar acabou por gerar um novo sentimento, a saudade da solidão, o quase desejo do isolamento.

Hoje, já é comum transformar a pequena baia do banheiro em cabine telefônica, pra falar ao celular, sem trocadilho, de forma privada. O cantinho onde um dia alguém ia fumar, pensar na vida ou apenas respirar o ar do lado de fora do escritório está tomado. Catracas eletrônicas em rede registram nossos passos, câmeras nos espiam e, quem sabe, um satélite nesse momento esteja fotografando esse ponto do espaço. Tiramos férias e tentamos ficar um pouco “offline”. Tentamos, porque, cadê energia pra resistir à tentação de subir aquelas fotos lindas no Instagram?

Com todas essas redes, com o Memolane, site que agrega várias redes em uma timeline só, com feeds de redes, alertas sobre adesões e desistências de redes, será que tem algum jeito de ficarmos um pouco sozinhos? Nem que seja só pra conversar com nossos botões?

Será que ainda temos botões pra dividir os pensamentos e a solidão? Talvez não. Talvez nossos botões também tenham entrado em rede. Talvez todas essas conexões sejam uma evolução intencional do ser humano para abdicar justamente desse estado de solidão.

Vai ver o último reduto de isolamento seja mesmo a caverna, buscada pelo eremita da reportagem da TV. Pelo menos até que ela seja fotografada e publicada em alta resolução para todos no Google Earth.

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