Para que as raízes e as asas cheguem juntas.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Um simples banho



A água benta que batizou
Contaminou o bebê 
A medicina e o seu doutor 
Nada puderam fazer 
O desespero se apoderou 
Do padre, do pai, da mãe 
Foi quando então alguém se lembrou 
De um feiticeiro de Ossãin 

Um simples banho de folhas fez 
O que não se esperava mais

Depois, depois muitos muitos anos depois 
Rapaz, aquele menino já então rapaz 
Se fez um rei entre os grandes babalaôs 
Dos tais, dos tais como já não se fazem mais

A água benta que ao bel prazer 
Se desmagnetizou 
Desconectada do seu poder 
Por um capricho do amor 
Amor condutor do élan vital 
Que o chinês chama de ch'i 
Que Dom Juan chama de nagual 
Que não circulava ali 
Ali na grã pia batismal 
O amor deixara de fluir

Talvez por mero defeito na ligação 
Sutil entre a essência e a representação 
Verbal que tem que fazer todo coração 
Mortal ao balbuciar sua oração

A água benta que o bom cristão
Contaminou sem querer
A fonte suja que o sacristão
Utilizou sem saber
A força neutra que move a mão
Do assassino o punhal
E o bisturi do cirurgião
O todo total do Tao
Lâmina quântica do querer
Que o feiticeiro sabe ler

Fractal, de olho na fresta da imensidão
Sinal, do mistério na cauda do pavão
Igual, ao mistério na juba do leão
Igual, ao mistério na presa do narval



Um comentário:

  1. Lindo o som do Gil, e como ele brinca com as palavras, adoro.
    Lindo o seu fractal...

    bjuxxx
    San

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