Para que as raízes e as asas cheguem juntas.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

EXPERIMENTAR A VIDA

Ao sair de casa
esta manhã eu sabia
que não era um dia
como outro qualquer.

Tinha chovido
e fazia sol
e uma nova alegria
(ou mais uma chuva?)
ameaçava.

Andando na rua
algo dizia
vindo do fundo
que o dia não era
como outro qualquer.

Peguei “Todos os estados da luz”
na revistaria
e algo na rua
lembrou o espírito
da alvorada.

O olhar vadio buscava
a cada volta
de cada esquina
alguma outra
coisa qualquer.

Eu pressentia
na minha pressa
que alguma coisa
por uma fresta
queria entrar.

E percebia
nesse momento
que algo de dentro
num movimento
se insinuava.

Era a lembrança
de um outro dia
ou hoje
era o dia
da transformação
de toda uma vida?

Alguma coisa
pairou na vitrine
por um momento
como um reflexo
de algo distante.

Imagem fugaz
e evanescente
transformada
rapidamente
num fantasma.

Então surgiu na calçada
em minha frente
saindo do sonho
da madrugada
Você e sorriu.


domingo, 2 de novembro de 2008

ENCANTAMENTOS

(para Lucas)

I

Meu Filho,

não perca tempo com bobagens.

Olhe uma coisa de cada vez.

Não gaste mais que o necessário,
e quando cansar, dê um tempo!
Então escale uma montanha,

ou nade na correnteza.

Só acumule o suficiente,

e descarte o impreciso.

Procure mudar o enquadre

e ajuste perfeitamente o foco.


Retome do começo,

sem pressa nem abatimento.

Não tema e nem queira!


Seja!


II


Meu Pai,

que eu não me perca em miragens.

Que eu olhe uma coisa de cada vez.
Não dispenda senão o preciso,

e possa parar e descansar.
Que eu escale uma montanha,

e nade na correnteza.
Que eu acumule o bastante,

e despreze o desnecessário.

E saiba mudar o enquadre,

e ajustar perfeitamente o foco.


Que eu retome do começo,
sem pressa e sem medo.

E nem desejo.


Seja!

sábado, 18 de outubro de 2008

TEMPOS OUTROS

(para Luiz)

Palavras ao vento

cabelos ao vento

doces alentos

desatentos

desalentos

de outros tempos

telepaticamente

empaticamente

nesses tempos

sem norte

com porte

com sorte

com você

sou forte


Luciana

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

PAIXÃO

Que façam tudo comigo
Mas não enterrem meu coração

Joguem no fogo e queimem

E espalhem as cinzas no chão.


No chão pisado da terra

Dura e coberta de águas,

Recobrindo um grande fogo

Que queima dentro dela.


Assim quando vierem os pássaros

Colher ali os seus frutos,

Voltarei logo à Terra
Do sonho do meu coração.


sexta-feira, 19 de setembro de 2008

DESCULPE

Desculpe coração
Criatura da minha vida
Desculpe chegar tarde
E também muito cedo

Desculpe estar triste
Rir e chorar sozinho
E por amar tanto
E sentir tanto medo

Desculpe se puder
Um coração transtornado
Querendo encontrar
Seu apego

Desculpe querer tanto
E não querer tudo
Desculpe tamanho
Desassossego

Desculpe falar muito
E não dizer nada
Desculpe coração
Eu ficar mudo

Desculpe a inquietude
E também tanta mágoa
E não querer ir embora
Do seu aconchego

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

PARTITURA

(Para Isabella)

perdida na estante do tempo

debaixo de minha janela

por onde partiram os pássaros

da juventude


segredos ocultos

em signos entrelaçados
nas tuas linhas escuras

jorro de notas contidas

num só pequeno olhar

às vezes em névoa


sonhos estanques na pauta

sem intérprete à altura

de lhe poder tocar

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

RENASCIMENTO

(para Hermínia)

Para quem deu

Sua mente, espírito e alma

Nada é fácil

Na terra dos homens
E mulheres que vivem na terra

Porquanto a terra
Perde aos poucos a vivacidade
E com ela leva
Todos os homens e as mulheres

E leva consigo

Minha mente, espírito e alma
À Terra dos Anjos
Por toda a eternidade

terça-feira, 9 de setembro de 2008

PALAVRAS AO VENTO

palavras correntes
de todos os tempos
palavras soltas
e desgastadas
palavras constantes
do livro dos templos
palavras escritas
e não lembradas
palavras difíceis
a cada momento
palavras roucas
e engasgadas
palavras fáceis
e esquecidas
palavras ocultas
e reveladas
ditas no acaso
ao sabor do vento
parece que dizem
e dizem nada
nem são palavras
apenas miragens
mero reflexo
do pensamento
outras palavras
menos sensíveis
levam com elas
meu sentimento

sábado, 23 de agosto de 2008

PLENO










(Para Luciana)

tu criatura que ainda

circula entre sonhos
andas com tudo
e com tudo contas
mesmo que tudo
te volte vazio

anda sem contar com nada
e nada leva
vai em busca do teu sonho
e voa e lembra

não dês adeus ao pleno
mesmo que ele volte Vazio
pois te retornará Pleno
num elo infinito

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

OLHO DO MUNDO

(solitário)

brilho contínuo revolto

entre areia semeada e sóis

livre em folhas no espaço
absorto da completa luz


criança adentro tomada

longe do tempo cortado
quase ondas traçadas em torno
como nuvem da força total

sopro da certeza volátil

tragada ao invés do ponto
resíduos por pouco ocultados
sobre saberes em treva


jatos da serenidade em pranto
amalgamada sobre chamas

parede espelhada do senso

através da ânsia macia


jornada fugaz ao retorno

em suave motivo rasgada

pedaços do destino soltos

distante do olho do mundo