Para que as raízes e as asas cheguem juntas.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

O PREGADOR DE BOTÕES II

A Acusação

A Camisaria Fontana & Fortuna cresceu e tornou-se uma grande firma exportadora. Mal se viam agora os Diretores, sempre viajando pela Europa e pelo Continente Asiático. Do Setor de Vendas jorravam pedidos e mais pedidos e os Gerentes de Departamentos riam à toa, menos o Camiseiro Dante, cujo mau bofe deixava a todos arrepiados.

Embora o negócio houvesse prosperado muito, a qualidade das camisas tinha caído bastante. Não tardaram em chegar as reclamações, e pedidos foram cancelados. Um dos maiores problemas era com os (raios dos) botões, que teimavam em não permanecer no lugar, caindo mal o produto retirado da caixa, frente ao lojista e ao aspirante a comprador, que batia em retirada insatisfeito.

As vendas começaram a declinar. Uma atmosfera malévola alastrou-se pelos cantos da fábrica, afetando o desempenho de todos. Até a faxineira era vista com os olhos marejados de lágrimas ao sair do banheiro, enquanto o pó se acumulava. Era preciso fazer alguma coisa, urgentemente!

A Gerência de Produção, o Marketing, o Departamento Financeiro, a Direção, enfim, todos os outros departamentos, chamaram o Supervisor Dante, como funcionário mais graduado, a dar uma explicação:

- Favor nos dizer o que acontece com esses malditos botões?, vociferou Stemer. O Supervisor, corpulento e atarracado, encolhia-se diante daquele homem alto, portentoso (além daquele imenso bigode). Fez ouvir seu chiado:

- É tudo culpa daquele pregador filho-da-prosta...

Em meio ao silêncio que se seguiu, o Diretor Stemer tremia, e de sua cara cada vez mais vermelha, parecia que os olhos iam saltar. O Senhor Reignart levou as mãos às orelhas como querendo arrancá-las. Rosa Helena virou lindamente os olhos, levou as costas de sua linda mão direita à testa e... desfaleceu. Só não chegou ao chão porque o Senhor Klemer, que a olhava embevecido, correu a ampará-la, laçando-a pela cintura.

- Um copo d’água, por favor!

- De quem o Senhor está falando, Senhor Dante, berrou Stemer. Explique-se!

Com faíscas nos olhos, o dantesco corcunda levou a cabo sua maldosa intenção:

- Leonardo R..., é o nome desse safado atirador de botões.

- Ora, não é possível, acorreu Rosa Helena, já perfeitamente restabelecida e ajeitando a saia, em defesa de seu protegido. É apenas um garoto, e um bom garoto, eu sei. Afinal, eu conheço o perfil do meu pessoal (com ênfase no meu). Não acredito que seja ele o responsável por tudo isso, falou firmemente.

- Chamem esse malandro logo aqui... como pudemos deixar a situação chegar a esse ponto... vamos pôr esse cretino no olho da rua já, já... acho que devemos ir com calma... devemos instaurar uma sindicância para apurar os responsáveis... ora, ora, que besteira... tanta insistência nessa compra absurda... eu sabia que ía dar em merda... você é um irresponsável... a economia é a base da porcaria... eu bem que avisei, não avisei?... vocês são todos uns incompetentes...

A Diretoria, seus membros e subalternos, abatidos, jogaram-se apáticos em suas cadeiras, menos Rosa, que saiu rápida e lindamente da sala.

Nuvens negras pairavam sobre a cabeça de nosso Pregador de Botões, assunto do próximo Capítulo.

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